Nos anos que se seguiram ao
fim da Grande Guerra, uma trágica epidemia de suicídios varreu a capital da
Hungria, a bela cidade de Budapeste . Nunca se soube ao certo o motivo, talvez
fosse o sentimento de perda das pessoas, sua frustração ou quem sabe a
desesperança com os rumos da humanidade. Talvez fosse apenas uma apatia
inexplicável ou falta de interesse manifesta. Alguns estavam convencidos de que
o problema era causado por uma triste música chamada "Gloomy Sunday"
uma melodia que de tão melancólica, se ouvida repetidas vezes poderia causar um
irreversível desejo de cometer suicídio.
A respeito da lamentável fama
da cidade, um jornal inglês publicou o seguinte artigo em outubro de 1937:
"Embora seja um
verdadeiro imã para turistas e viajantes de todas as partes do mundo, Budapeste
nos últimos anos se tornou conhecida com a Cidade dos Suicidas. A capital da
Hungria sofreu bastante com os horrores da guerra e tem recebido desagradável
publicidade graças ao número assombroso de casos de auto-destruição entre seus
habitantes. Para todos os padrões, a quantidade de suicídios em Budapeste é
definitivamente alta. O método favorito adotado por muitos residentes
melancólicos é o afogamento - pessoas se lançam nas águas turbulentas do
Danúbio do alto de pontes ou das margens. A preocupação das autoridades é
tamanha que motivou um grupo de policiais e barcos de patrulha a ficarem sempre
à postos para recolher algum desesperado. Outro método empregado pelas pessoas
é o envenenamento, por isso as farmácias e apotecários foram proibidos de
vender substâncias tóxicas e venenos a população. Finalmente, há o caso de
indivíduos que preferem morrer utilizando armas de fogo ou lâminas. Os boatos
informam que o número de pessoas que cedem ao desespero e utilizam armas dessa
natureza para por fim a sua miséria, aumentou depois que medidas restritivas
foram colocadas em prática para impedir o acesso a pontes e a aquisição de
substâncias tóxicas. O que se passa em Budapeste causa extrema consternação e
preocupação".
Mais estranho do que o
problema, foi a maneira como a cidade tentou combater os suicídios... com algo
chamado "Smile Clubs." (Os Clubes de Sorriso).
Os Clubes surgiram a partir de
uma piada feita por um renomado psiquiatra local, o Professor Jeno e um famoso
hipnotizador chamado Binczo. Eles reputavam a razão pelo grande número de
suicídios a uma condição melancólica típica do povo húngaro, uma tristeza
causada pela incapacidade de estabelecer empatia e de se alegrar com as
pequenas coisas da vida. O sintoma clássico das pessoas afligidas pela
"Tristeza Húngara" (um termo que acabou pegando), era a incapacidade
de sorrir. Segundo Jeno, muitos dos habitantes de Budapeste eram incapazes de
demonstrar alegria, e boa parte não conseguia nem mesmo sorrir.
Em um espetáculo digno de
vaudeville, o hipnotizador Binczo provou como o mero ato de sorrir era difícil
para os moradores da cidade. Como parte de uma apresentação pública, ele
colocou um grupo de pessoas tiradas da platéia em transe e fez com que eles
obedecessem suas ordens, mandando que elas vissem coisas e se comportassem de
maneira incomum. Mas quando finalmente ele ordenou que as pessoas no palco
sorrissem, elas foram incapazes de obedecer, algumas despertaram do transe ou começaram
a chorar amargamente.
Parecia haver algo de muito
errado na cidade onde as pessoas não sorriam.
O governo deu início a
programas para aumentar a jovialidade entre a população. Palhaços, circenses e
comediantes eram chamados para se apresentar nas ruas e tentar alegrar as
pessoas. Piadas eram contadas no intervalo dos programas de rádio mais
populares. Cinemas e teatros receberam a ordem de apresentar comédias e
substituir os dramas. Até mesmo a popular Gloomy Sunday (um sucesso arrebatador
no país) desapareceu da lista de músicas.
Mas de nada adiantou...
pessoas continuavam se matando em Budapeste. Um suicídio chamou a atenção,
ganhando as manchetes dos principais jornais do país: uma noiva havia se matado
durante a recepção de seu próprio casamento. A jovem tomou uma dose mortal de
arsênico enquanto os convidados se perguntavam quando o bolo seria servido.
As pessoas até imaginavam que
a tristeza húngara poderia ser contagiosa, algo que estivesse no ar e que
poderia afetar qualquer pessoa, à qualquer momento.
Foi então que surgiram os
"Clubes de Sorriso".
Os primeiros grupos se
organizaram como escolas ou cursos que prometiam ensinar aos húngaros o segredo
da alegria, jovialidade e é claro, a arte de mostrar um belo sorriso. Pode
parecer um absurdo, mas os Clubes começaram a atrair mais e mais pessoas que
temiam ser contaminadas por uma tristeza letal. Estas estavam dispostas a pagar
aos especialistas pelas aulas práticas e teóricas.
Diante do grande número de
interessados, vários clubes começaram a aparecer, oferecendo diferentes
tratamentos no combate da tristeza. Alguns contratavam professores para ensinar
como deveria ser o sorriso perfeito, mostrando fotografias de celebridades e
mandando que os alunos tentassem repetir a expressão da foto. Outra escola
oferecia uma espécie de suspensor de lábios, uma armação metálica que ficava
presa aos lábios puxando-os de tal forma que a pessoa era incapaz de conter o
sorriso.
Outra, ia ainda mais longe, oferecendo um tratamento de choque à base
de gás hilariante (o gás do riso) para forçar os alunos a dar boas gargalhadas.
Durante esse período, não era
totalmente absurdo sair pelas ruas de Budapeste e dar de cara com pessoas
usando uma placa de madeira pendurada na frente da boca com um sorriso
desenhado. Mais do que demonstrar um
sorriso saudável, muitas pessoas acreditavam que uma face tristonha podia
contaminar as demais, por isso, era necessário restringir aqueles que tinham
uma expressão tristonha. Na entrada de metrôs algumas pessoas distribuíam
lenços para serem usados por pessoas sofrendo de "tristeza húngara",
esses lenços tinham sorrisos bordados na frente.
A situação perdurou na Hungria
por quase um ano, depois disso, as pessoas devem ter começado a se sentir
ridículas e os Clubes de Sorriso foram aos poucos fechando as suas portas.
Por volta de 1940, o governo
obrigou os últimos clubes a encerrar suas atividades, acusando seus
proprietários de explorar a população com charlatanismo. Por volta dessa época,
o número de suicídios foi reduzindo até se tornar compatível ao restante das
cidades da Europa. Infelizmente, a Segunda Grande Guerra começaria logo em seguida
e não haveria muitos motivos para sorrir, em Budapeste ou no resto do mundo.
As fotos a seguir foram
publicadas pela revista dinamarquesa Het Leven, no ano de 1937. Elas mostram algumas práticas corriqueiras
nos Clubes de Sorriso espalhados pela Hungria, a maioria delas parecem
completamente absurdas, sobretudo a que mostra pessoas usando o tal suspensor
labial para criar sorrisos absolutamente artificiais.
Fonte: Mundo Tentacular
esses clubes do sorriso deviam ser patrocinados pelo Freddy krueger.
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