quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Personagens históricos do ocultismo: Nicolas Flamel

Nicolas Flamel foi um alquimista francês que viveu entre os séculos XIII e XIV. No entanto, sua biografia é repleta de lacunas que dão vazão às inúmeras especulações. Sabe-se que nasceu na cidade francesa de Pontoise em 1330. No início de sua juventude, após a perda dos pais, foi à Paris trabalhar e casou-se com a viúva Perrenelle; mulher ligeiramente mais velha, dona de uma inteligência e astúcia ímpares.
A partir deste momento, até sua morte, os fatos da vida de Flamel se combinam com lendas e geram uma aura mística em torno de sua figura, mas que, no entanto, não se pode atribuir credibilidade sem antes uma pesquisa mais profunda e criteriosa.



A Iniciação

Seu contato com a alquimia se inicia em torno de 1370 quando, então aos quarenta anos de idade e proprietário de uma livraria, Flamel sonha com um anjo lhe entregando um livro misterioso. Pouco tempo depois, um homem desconhecido entra em sua livraria e oferece-lhe um antigo manuscrito. Flamel identificou aquele livro como o que lhe fora entregue pelo anjo durante o sonho e comprou-o imediatamente.
Segundo sua própria citação: "Quando faleceram meus pais tive que ganhar o pão escrevendo; naquele tempo adquiri um livro dourado, muito velho e volumoso. O livro compunha-se de três fascículos de sete folhas cada um e a sétima folha de cada um aparecia em branco. Na primeira folha via-se um báculo em torno do qual apareciam enroscadas duas serpentes; na segunda, uma cruz da qual pendia outra serpente e na sétima podia ver-se um deserto, no centro do qual brotavam formosas fontes; porém delas não saiam água senão serpentes que se arrastavam em todas as direções".
A iniciação é narrada pelo próprio Flamel com as seguintes palavras: "Todavia trabalhei uns três anos, até que finalmente encontrei o elixir (havia trabalhado 21 anos) que imediatamente se reconhece por seu forte odor. Primeiro o projetei sobre uma libra e meia de mercúrio e obtive desse modo igual quantidade de prata; isso ocorreu em minha casa, estando presente unicamente minha esposa Perenelle; mais tarde, atendo-me escrupulosamente a cada palavra de meu livro, projetei a pedra vermelha sobre uma quantidade quase igual de mercúrio na mesma casa e de novo estava presente minha esposa Perenelle. Realizei a obra por três vezes com a ajuda de Perenelle, pois como havia-me ajudado no trabalho, o entendia exatamente como eu"
Ainda sobre o enigmático escrito, Flamel cita que constava o método de transmutação de metais. Ilustrando esta técnica, havia a representação de dois recipientes e da Pedra Filosofal. Uma menção mais consistente, porém, tão misteriosa diz que "Um rosal florido no meio do jardim; no solo junto às rosas uma fonte da qual emanava água branquíssima, que logo a uma distância respeitável precipitava-se num abismo. Muitas pessoas cavavam ao longo de seu curso, com as mãos na terra, tratando de encontrar a fonte, porém não conseguiam êxito porque eram cegas; somente um foi capaz – ele encontrou a água".
Esta descrição pode representar alegoricamente a rosa como indicador da cristalização dos corpos solares e a fonte como a "fonte da água viva". Assim, a humanidade, mesmo tendo a fonte ao alcance, não possui discernimento para compreendê-la e acaba por desperdiçá-la. Desse modo, somente o "Iniciado" ou o "Desperto" teria lucidez para percebê-la e interpretá-la como um elemento essencial na composição alquímica.
Assim iniciam-se seus estudos baseado no conteúdo da obra. No entanto, sem possuir conhecimento necessário para interpretá-lo e decifrá-lo, não atinge um nível de conhecimento suficiente para prosseguir.


A peregrinação alquímica

Buscando orientação, Flamel produz cópias de alguns trechos e símbolos do misterioso livro e parte para a Espanha, em peregrinação ao sepulcro de São Thiago. Lá, com a ajuda de um sábio judeu conhecido por Mestre Canches, consegue decifrar algumas passagens e concluir que se tratava de textos e representações gráficas sobre Cabala e Alquimia, incluindo ainda uma fórmula para elaboração da Pedra Filosofal. Sendo, aparentemente, da autoria de Abraão – O Judeu.
Canches ainda tentou acompanhar Flamel de volta à França para dar continuidade aos trabalhos de tradução e interpretação do manuscrito. No entanto, devido à idade avançada e à saúde debilitada, faleceu antes de concluir a viagem.
O alquimista teria compreendido o sentido dos processos alquímicos, mas não havia elucidado totalmente as matérias componentes. O completo entendimento só foi possível com o auxílio de Perrenelle; fato que pode aludir à necessidade da presença feminina para o total desenvolvimento da técnica e obtenção da "Grande Obra".
Nos anos seguintes, desenvolve as técnicas de transmutação de metais em prata e ouro. Assim, torna-se possível dedicar-se às atividades filantrópicas como a construção de hospitais, abrigos e cemitérios nos quais, ocultos na ornamentação arquitetônica, encontram-se diversos símbolos alquímicos. Porém, não há registros de que, em momento algum, Flamel e Perrenelle tenham usado as técnicas aprendidas ou os resultados obtidos para benefício próprio.
Um fato interessante é que o alquimista, talvez motivado por uma certa vaidade, sempre que uma capela, hospital, cemitério ou abrigo fosse concluído, encomendava a um escultor que representasse sua figura em duas situações distintas: uma jovial e uma outra já com aparência envelhecida e debilitada. Essa duas esculturas eram postas em locais de destaque como parte da decoração.
Conta-se que Flamel e sua esposa Perrenelle, mesmo com o passar dos anos, desfrutavam de uma saúde surpreendentemente vigorosa. A este fato atribuí-se à supostas fórmulas (como o elixir da juventude) que teria desenvolvido. Flamel passou os últimos dias de sua vida fazendo anotações sobre alquimia. Faleceu em 22 de março de 1418 e sua lápide, que havia sido encomendada poucos dias antes, trazia esculpido um sol, uma chave e um livro, em mais uma referência à simbologia alquímica. Sua casa foi invadida e saqueada por populares e mercenários que buscavam metais nobres, jóias e as supostas poções da juventude e vida eterna.


Lendas e legado

Sua obra escrita também é bem rica. O Livro das figuras Hieroglíficas (1399), O Sumário Filosófico (1409) e Saltério Químico de 1414 são referências de seus estudos e práticas alquímicas ao longo dos anos. A Biblioteca Nacional, em Paris, contém manuscritos do próprio punho de Flamel; além de registros oficiais como sua certidão de casamento.
Uma espécie de testamento teria sido deixado por Flamel a um sobrinho. Este escrito contém inúmeras anotações feitas sobre os mistérios da alquimia, redigidas pelo próprio alquimista através de um alfabeto codificado com 96 letras, ao longo dos anos de estudo e prática. O Testamento de Nicolas Flamel foi compilado na França em meados do século XVIII e copiado por um escrivão de nome Father Pernetti, para ser "decodificado" posteriormente. Finalmente, publicado em Londres no início do século XIX.
Por outro lado, o manuscrito de Abraão teria sido dado por Flamel a um sobrinho de nome Perrier. Mas a história não faz referência nem traz registros ao sobrinho. Durante o reinado de Luis XIII, um jovem de nome Dubois, supostamente descendente de Flamel, tinha em seu poder um pó através do qual, na presença do próprio rei, convertia chumbo em ouro.
Dubois foi encaminhado a um interrogatório com o Cardeal Richelieu. Argumentando que possuía o pó, mas não saberia compreender os escritos de seu antepassado e tampouco reproduzir aquela substância, Dubois teve seus bens confiscados pela igreja e foi condenado à morte por suposta bruxaria. Entretanto, o manuscrito de Abraão teria sido encontrado em poder de Dubois e, após sua condenação, subtraído por Richelieu.
Conta-se que o Cardeal levou o livro para o Castelo de Rueil onde passou a estudá-lo por muitos anos sem atingir qualquer resultado. Após a morte de Richelieu, não houve mais nenhum registro ao paradeiro do velho manuscrito.
Nesta mesma época, o túmulo de Flamel teria sido violado por ladrões que se surpreenderam ao constatar que não havia um corpo ou tampouco vestígios de que um dia aquele túmulo havia sido ocupado. Este fato gerou o boato de que o alquimista nunca teria morrido. Em outra situação, durante o reinado de Luis XIX, um arqueólogo de nome Paul Lucas havia sido solicitado pelo próprio rei a pesquisar e colher documentos que poderiam contribuir com o desenvolvimento da ciência daquele tempo.
Durante sua pesquisa, de acordo a própria narrativa, Paul Lucas fora saqueado por ladrões que lhe destituíram todo o material acumulado. No entanto, em Voyage dans la Turquie publicado pelo próprio arqueólogo em 1719, conta que conheceu pessoalmente um "filósofo" que "aparentava não ter idade" e que fazia parte de um grupo de sete membros que vagavam pelo mundo em busca de sabedoria e que, a cada vinte anos, se reunia em um local diferente pré-determinado para trocar conhecimento. Naquela ocasião, o local era a cidade de Broussa, na Turquia.
Segundo Paul Lucas, o sábio citou que era possível ao homem viver mais de mil anos se possuísse o domínio sobre a Pedra Filosofal e o Elixir da Longa Vida. Ainda, citou que Nicolas Flamel e Abraão eram componentes daquele grupo.
De acordo com o arqueólogo, o sábio contou que Abraão havia ido à Paris encontrar um rabino que almejava atingir os estados elevados de conhecimento que o labor alquímico permitira. No entanto, antes de deixar a França, Abraão, de maneira desleal, foi morto pelo próprio rabino que, por sua vez, desejava a posse definitiva do livro. Pouco tempo depois o rabino foi condenado à morte e queimado. O livro de Abraão, misteriosamente, chegou às mãos de outro judeu que o vendeu à Flamel. Portanto, Flamel e Perrenelle ainda viviam e os respectivos funerais, realizados dois séculos antes, não eram mais que fraudes bem articuladas. Após a "morte", o casal partira para a Índia.


Flamel na História

Nicolas Flamel foi um alquimista medieval. Essa é a sentença que resume sua figura ao longo da história. Porém, como é possível compreender e concluir, Flamel foi também marido, foi um dedicado estudante dos enigmas da alquimia, um homem de coração nobre (e por vezes vaidoso) que aplicou seu conhecimento em benefício comum.

De qualquer forma, a imagem de "alquimista medieval" ainda é indissolúvel, tanto por sua obra quanto pelos séculos que a história solidificou sobre sua figura enigmática; e que, ainda hoje, é base de estudo, questionamento, divagações e admiração

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