Cineasta judeu israelense entrevistou descendentes de hierarquias nazistas em campos de concentração, confrontando-os com o mal
praticado por seus familiares. Depoimentos mostram as "crianças de
Hitler" ora pressionadas entre a vergonha e a culpa, ora dispostas a
refletir sobre a trágica experiência histórica.
O diretor de cinema israelense Chanoch Ze'evi ficou
perturbado ao conhecer a secretária de Hitler. Ele sempre imaginou que os
nazistas seriam monstros sem rosto. "De repente, ela tinha perguntas a
fazer sobre mim. Ela queria saber sobre Israel, se eu tinha uma família",
conta.
Quase como se tivesse esquecido quem era a interlocutora,
Ze'evi se viu mostrando uma foto da filha bebê, para ter um novo abalo na
sequência: "Ela foi a outra sala e voltou com fotos de Hitler. Foi
chocante porque ela não conseguia esconder de mim, um judeu israelense, a
admiração que sentia por ele".
Depois daquele encontro, Ze'evi sabia que queria conhecer o
outro lado. Assim nascia o projeto de "Hitler's Children"
Em uma das imagens mais fortes do documentário, o alemão
Rainer Hoess visita pela primeira vez um campo de concentração. A
experiência, forte em qualquer contexto, supera as expectativas neste caso: Rainer é neto de Rudolf Hess, criador e comandante de Auschwitz. Acompanhado por um descendente de sobreviventes do campo, Hoess visita a casa onde sua família morou e compara o que vê às imagens de crianças brincando em um jardim em fotografias antigas. Minutos depois, é confrontado por jovens israelenses que o questionam: "Você se sente culpado?"
experiência, forte em qualquer contexto, supera as expectativas neste caso: Rainer é neto de Rudolf Hess, criador e comandante de Auschwitz. Acompanhado por um descendente de sobreviventes do campo, Hoess visita a casa onde sua família morou e compara o que vê às imagens de crianças brincando em um jardim em fotografias antigas. Minutos depois, é confrontado por jovens israelenses que o questionam: "Você se sente culpado?"
Essa questão permeia o filme de Ze'evi, que ouviu outros
quatro descendentes de hierarcas nazistas -Hermann Göring, fundador da Gestapo,
Heinrich Himmler, segundo homem do partido, abaixo apenas de Hitler, Hans
Frank, comandante da Polônia durante a ocupação, e Amon Göth, comandante do
campo de concentração Plaszów.
Os entrevistados falam sobre o peso de seus sobrenomes e
sobre como se relacionam com a história da família. "Contar essa história
é passar uma mensagem de esperança", afirma o diretor. "Eles não são
responsáveis pelas atrocidades cometidas pelos antepassados. É uma fatalidade
ser descendente de um monstro, um criminoso de guerra. Nós, a segunda e
terceira geração dos dois lados, nazistas e judeus, temos que enfrentar a
verdade e termos esperança."
Fonte: Folha
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