quinta-feira, 3 de abril de 2014

Creepypasta: Cry Baby Lane

Em 1999, eu tinha 22 anos e havia acabado de me formar da Universidade de Emerson no centro de Boston, com especialização em roteiro, especificamente em desenhos animados e programas infantis. Minha dívida estava muito ruim, então quando a Nickelodeon Studios me ofereceu um cargo pra estágio no estúdio na Califórnia, eu aceitei imediatamente; Agarrei essa oportunidade para ficar longe de meu trabalho ridículo como guia de turismo.
Muitos de vocês se perguntam sobre o tal filme perdido Cry Baby Lane, mas se você deseja ver a versão original do filme, você nunca o vera, mesmo que de alguma forma a Nickelodeon decidir libera-lo para você. Você não estará vendo o que foi originalmente mostrado na TV, e com toda certeza você não estará vendo a versão que Lauer fez.
Imagino que a Nickelodeon nem tenha mais a versão original do filme com eles, e se tiverem, provavelmente são apenas algumas cópias de segurança; se estas cópias realmente existem elas devem estar trancadas em algum cofre, juntamente com todos os episódios perdidos de Ren e Stimpy e os episódios nunca antes mencionados de Bob Esponja. Tenho certeza de que o diretor, Peter Lauer, tem a cópia original guardada com ele, provavelmente ao lado de seus “Filmes Snuff”... Aquele filho da puta perturbado.
Enfim, fui contratado em 1999, e imediatamente fui colocado em uma equipe de produção para o filme Cry Baby Lane, ou seja, quase um ano antes que o filme fosse transmitido para a televisão. Apesar de tudo, era um trabalho bem amador. Havia apenas quatro pessoas na equipe de criação, e eu era o único estável; Lauer iria substituí-los em pouco tempo. Ele disse que aquilo era para deixar tudo sempre de cara nova. No inicio, pensei que era porque ele estava escondendo alguma coisa... e eu estava certo.
Nós tivemos pouco mais de um ano para fazer um filme para a TV - e não apenas escrevê-lo e escalar o elenco, mas também filmá-lo e edita-lo. Lauer não trabalhava muito rápido; após as três primeiras semanas nós só tínhamos as ideias para os primeiros 15 minutos de um filme de 85 minutos. Neste ponto, eu já havia notado que Lauer era um anormal. Ele era alto e muito magro, e andava desajeitadamente - ele gaguejava bastante quando falava e, às vezes, eu o surpreendia olhando pra mim, sorrindo sem parar.
Ele sempre olhava para longe quando você encarava-o por muito tempo, e eu acho que essa era a parte mais assustadora; ele sempre parecia ter algo a esconder. As sessões de idéias, a principio, estavam boas. Tivemos a ideia da premissa em pouco tempo: dois irmãos acidentalmente liberam um demônio, e eles precisam fazer com que tudo volte ao normal. Não era exatamente aquelas ideias de Oscar, mas até que era um bom começo. Achei que o filme deveria ser engraçado e assustador ao mesmo tempo, como uma espécie de Coragem, O Cão Covarde. No entanto, desde o início, Lauer deixou claro que queria que o filme fosse o mais assustador possível. Ele não queria que fosse um filme repleto de emoções baratas, com um final de qualidade mediana. Ele queria chegar ainda mais longe do que a série “Clube do Medo” havia chegado... e eu acho que ele conseguiu.
Estavam a cerca de três semanas de produção quando notei uma coisa: Lauer tinha o poder absoluto de persuasão sobre todos os outros da equipe de produção. Ninguém nunca discutia com ele, e na terceira semana, ele já estava sugerindo algumas coisas mórbidas demais. Lembro que ele havia dito que queria que o irmão mais novo morresse no meio do filme, sendo atingido por um caminhão de lixo. Eu imediatamente discordei da ideia. Eu era o único que dizia alguma coisa nas reuniões, e assim foi até o dia em que saí do estúdio pra nunca mais voltar.
No início, canibalismo e outras coisas fudidas e perturbadoras eram mantidas somente como piadas e comentários de mau gosto, mas com o passar do tempo, tornavam-se cada vez mais constantes. Eu lhe dava uma ideia (que na maioria das vezes ele acaba usando), como: "Que tal se o filme começasse com um agente funerário que contasse as histórias para os irmãos?", ao que ele respondia: "Sim, e então ele poderia cortá-los em pedacinhos e forçar seu cachorro a comê-los!" Ele fazia essas piadinhas algumas vezes nos estágios iniciais… E então começava a falar sério.
Ele se levantava como se fosse Jesus ou algo assim, limpava a garganta e proclamava sua ideia. Eu era o único a discutir. Toda-caralhada-de-vez.
Um dia, perto do final de nossas sessões de ideias, Lauer pigarreou e se levantou. Todos se calaram e olharam para ele, como fazemos normalmente. Então ele disse:
"Senhoras e senhores, eu tenho uma ideia."
Lembro muito bem do que ele fez - ele deu uma pausa, olhou para mim e disse:
"A história vai girar em torno da lenda de um par de gêmeas siamesas. Vocês já ouviram falar do Donner’s Party?"
Todos concordaram, exceto eu. Não gostava donde a conversa estava indo.
"Eles se comiam quando sentiam frio. Eles comiam uns aos outros."
Todos concordaram com a cabeça novamente. Eu fechei os olhos.
"O que as gêmeas siamesas fariam se não tivessem nada para comer? Uma iria esperar até a outra morrer sozinha, e então consumiria a carne de sua própria irmã? Ou será que elas arrancariam os olhos uma da outra no desespero até alguma morrer, para que a outra comesse sua carne como um abutre devorando a pele de um veado morto? Eu não sei, mas de fato é interessante."
Eu não sabia o que diabos estava ouvindo. Abri meus olhos e olhei ao redor da sala; ninguém estava sequer se mexendo. Todos os olhos estavam focados em Lauer, exceto os meus, e quando olhei para ele, ele ainda estava olhando para mim.
"Crianças gostam de violência, eles se divertem com ela. Crianças gostam de ficar com medo, então, vamos assustá-las! Não é, Johnny?" Ele se inclinou sobre a mesa, ficando muito perto de meu rosto. Seu hálito cheirava a merda em decomposição. Olhei para ele e disse.
"Acho que você está completamente maluco, pra ser honesto."
Ele sorriu e depois se afastou.
"Oh, eu estou maluco, claro! Mas você tem que ser maluco para sobreviver neste mundinho de merda!" Seu sorriso se expandiu.
"Literalmente. Agora, vou lhe mostrar algumas fotos que vão desencadear algumas de suas imaginações mais obscuras."
Então ele se levantou e trancou a porta por dentro.
Imediatamente me levantei também e perguntei: "Que porra você está fazendo?!"
"Não vamos fazer quaisquer... erros de julgamento, Jonathan. Agora sente-se."
"Não."
"Sente-se."
Por alguma razão, eu o fiz; Lauer puxou um daqueles velhos projetores antigos. Ele ligou o interruptor e gritou, numa voz assustadoramente elevada e semi-frenética:
"Esta é a PORRA da INSPIRAÇÃO que precisamos pra continuarmos essa DROGA de PROJETO! ISSO É O QUE TODAS AS CRIANÇAS DEVERIAM ASSISTIR."
Seus olhos se arregalaram em sua cabeça.
Ele colocou a imagem de cabeça pra baixo na superfície do vidro do projetor e ficou em silêncio.
A imagem era em preto e branco, mas era granulada. Eu pude vagamente distinguir um menino deitado em um chão de tijolo, com os braços cortados e pequenos pontos pretos ensanguentados. A única coisa que estava clara era seu rosto; Ele estava sangrando pela boca.
Lauer quase jogou o papel pra fora do vidro, colocando uma outra imagem.
Era um zoom do rosto do menino. Estava colorido. O sangue escorria de sua boca aberta para o chão de tijolo, seus olhos fechados e sangue sujo embaixo das sobrancelhas e cílios.
De repente, seus olhos se abriram, e eu gritei. Ninguém mais na porra da sala o fez, e eu não conseguia acreditar na merda que havia me metido.
Suas pupilas estavam completamente pretas. O resto do olho estava normal.
Quanto mais eu olhava, mais os olhos se abriam, ampliando e alargando cada vez mais, até que a pele acima das sobrancelhas parecer que iria rasgar ao meio.
Então eles começaram a sangrar. O sangue começou com uma gota, e eu juro por Deus que eu podia ouvi-lo. Mais, mais e cada vez mais sangue, até o chão de tijolos virar um lago de sangue. Eu podia ouvi-lo, como se eu estivesse caminhando e me deparasse com uma cachoeira, e nesse momento também pude sentir o cheiro do garoto. Eu podia sentir o cheiro de sua carne podre.
Inclinei-me debaixo da mesa e vomitei. Quando me levantei, as imagens já haviam terminado. Todo mundo na sala estava inexpressivo. Lauer acendeu as luzes.
"Você pode ir", disse ele, abrindo a porta.
Eu andei por aquelas portas, e nunca mais voltei.
Isso aconteceu perto do final da sessão de ideias, e no tempo que eu sai de lá, o elenco já havia sido escolhido e o roteiro estava quase pronto. Eles estavam desesperadamente atrasados; acho que Lauer planejou que fosse assim, para que não houvesse tempo para a edição apropriada. Eu não assisti aquela coisa quando foi ao ar, mas ouvi de um amigo que trabalhava no departamento de edição que eles tiveram que cortar uns bons minutos 15-20 minutos de filmagens 'perturbadores' do filme antes que ele estivesse na duração correta pra ser liberado. Eles não tiveram tempo suficiente para verificar o filme quadro a quadro.
Acho que Lauer teve seu desejo atendido, a menos que tivessem cortado todas as cenas que tivessem as imagens nelas. Todas as crianças que assistiram Cry Baby Lane tem uma memória inconsciente dessas imagens, e eu lamento por elas, de verdade; essas imagens me foderam demais, e isto que escrevo para você, será a última coisa que farei antes de cortar minha própria garganta e acabar com toda essa desgraça.
Entretanto, há algo que eu deveria lhe dizer primeiro.
Logo no início, Lauer deu uma idéia que um homem com “nariz de lula” tirasse suas calças na frente dos dois irmãos e implicitamente estuprasse-os longe das câmeras. Lula Molusco logo apareceu como um personagem principal em Bob Esponja.
Lauer também sugeriu, em uma cena do filme, que os irmãos capturassem um esquilo, colocassem-no em uma jarra e lentamente afogassem-no, antes de encher o frasco com areia e joga-lo no fundo de um lago. Logo após isso foi sugerido, Sandy Bochechas fez sua primeira aparição em Bob Esponja no episódio “Chá em Terra Firme”.
Foi sugerido também que os dois originalmente fossem meio-irmãos, forçados a viverem na mesma casa após a mãe de um deles fosse encontrada morta em uma cova rasa, o corpo dela violentamente canibalizado pelo seu próprio marido, um meteorologista local. Um seriado vagamente com a mesma premissa, Drake e Josh, estreou em 2004, tendo o padrasto como meteorologista.
Lauer também sugeriu que o irmão mais novo tivesse uma casinha de cachorro em que ele mantinha os fetos de diversos animais, juntamente com um ácido que ele regularmente usava para envenenar sua mãe e ter relações sexuais com seu padrasto abusivo. Ginger estreou logo em seguida.
Um homem que captura os fantasmas das crianças em um aspirador de pó e os manda para o submundo? Danny Phantom.
Um robô que enlouquece os dois irmãos, mata um deles e usa sua pele no colégio, fingindo ser o irmão morto? Uma Robô Adolescente.

E a lista continua. Nickelodeon sabe disso, e eles estão continuando o legado de Lauer, às vezes de forma sutil, às vezes abertamente. E não há mais nada que possamos fazer sobre isso.

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