Uma das lendas urbanas que fizeram um imenso sucesso na
Europa séculos atrás foi “O mistério de Jack Calcanhar de Mola”. O que seria o
ser por detrás das terríveis aparições que assombravam Londres? Um marquês
steampunk? Um demônio? Um cientista malucão? Uma entidade sobrenatural? Um
alienígena? Um viajante do tempo? Confira essa história e tire suas próprias
conclusões:
Em suas descrições ele aparentava ser um cavalheiro alto,
magro, usando um casaco negro e capa. De feições aquilinas, queixo pontudo e
com orelhas grandes e afiladas. Um homem de aspecto demoníaco capaz de pular de
cinco a dez metros de altura na vertical. Um homem de olhos vermelhos
brilhantes como faroletes e capaz de vomitar chamas brancas e azuis. Um homem a
prova de balas e que usava garras metálicas em seus dedos. Um demônio travesso
a solta pelos telhados. Um psicopata em posse de tecnologia a frente de seu
tempo.
O primeiro avistamento ocorreu em Setembro de 1837, quando
um respeitável homem de negócios voltava para casa tarde da noite, ao fazer uso
de um atalho, o cavalheiro em questão presenciou o mais notável feito de uma
figura sombria que surgiu em seu caminho. Um estranho misterioso cruzou seu
caminho após ter saltado os portões do pequeno cemitério que ladeava o atalho.
Um salto apenas, sobre um portão de no minimo três metros de altura. O estranho
foi descrito como tendo o nariz, queixo e orelhas grandes e pontudos, e olhos
que brilhavam como lanternas.
Pouco tempo depois foi dito que a mesma figura cruzou o
caminho de um grupo de pessoas, três mulheres e um homem. Assustados, todos
correram, menos uma mulher chamada Polly Adams, que tendo ficado para trás, foi
alcançada pelo estranho que rasgou sua blusa e arranhou sua barriga, o choque
fez Adams desmaiar, e ela foi mais tarde encontrada por um policial em
patrulha.
Um mês mais tarde, uma garota que atendia pelo nome de Mary
Stevens, se dirigia a seu trabalho em Lavender Hill, após uma visita aos pais
que moravam em Battersea. Segundo consta em sua declaração, quando já se
encontrava em Clapham Commom (na passagem com o tranquilizante nome de Cut
Throat Lane), uma estranha figura saltou sobre ela vindo de um beco escuro.
Após imobilizá-la, segurando seus braços com uma das mãos, o estranho beijou
seu rosto e a apalpou com uma mão “fria e mole com a de um cadáver”. Em pânico,
a garota gritou, o que fez seu atacante fugir rapidamente. Os gritos atraíram
vários residentes do local que se puseram a buscar o agressor, mas ninguém foi
encontrado.
No dia seguinte o estranho foi avistado em um local próximo
a casa de Mary Stevens. Ele saltou em frente a uma carruagem que passava,
fazendo com que o condutor perdesse o controle dos cavalos e colidisse o carro,
se machucando seriamente na colisão. Testemunhas afirma ter visto o estranho
fugir pulando um muro de mais de dois metros sem o mínimo esforço, enquanto ria
uma gargalhada estridente. Pouco depois do incidente da carruagem, outra mulher
foi atacada perto de Clapham Curch. Neste incidente foram deixadas evidências
físicas do assaltante. Os investigadores descobriram duas pegadas com 7 ou 8
centímetros de profundidade. A profundidade das pegadas sugeriram aos
investigadores que o atacante usava algum tipo de mecanismo de molas em seus
calçados, como os que haviam sido testados pelos alemães durante a guerra
(embora tais aparatos tivesse resultado em falhas em 85% dos testes, pois o
impacto causava fraturas nas pernas e quadris).
Mas isso foi o suficiente para os boatos, já abundantes,
correrem, e logo a imprensa e o publico deram ao misterioso maníaco o apelido
Spring-heeled Jack (Jack calcanhar de mola).
Ameaça a segurança pública (Jack be nimble, Jack be quick…)
Alguns meses depois, em 9 Janeiro de 1838, o Prefeito de
Londres, Sir John Cowan declarou Spring Heeled Jack uma ameaça pública. Em uma
sessão publica conduzida na Mansion House, o Prefeito revelou uma reclamação
que recebera de um residente de Peckham, e que mantivera em segredo até obter
novas informações. A carta relatava diversos ataques em vilas perto de Londres,
todos feitos por algum indivíduo, ou mais de um, disfarçado de assombração, urso,
ou diabo. Tal indivíduo, ou indivíduos teria invadido jardins assustando os
moradores das residências, e já tendo causado desmaios em sete diferentes
moças; duas das quais que teriam ficado com graves sequelas nervosas, e
provavelmente se tornando fardos para suas respectivas famílias. Eu uma das
casas, ele teria tocado o sino de uma residência, e quando a servente da casa
abriu a porta, o choque do susto foi tamanho que a moça teria perdido os
sentidos e entrado em choque, do qual até o momento não saíra.
Embora o prefeito tenha permanecido cético, membros da
audiência confirmaram que garotas de “Kensigton, Hammersmith e Ealing já haviam
contado sobre este espectro ou demônio”. O assunto foi reportado no The Times
daquele dia, e em outros jornais Ingleses no dia seguinte. E um dia depois (11
de Janeiro), a mesa do prefeito se mostrava repleta de cartas de diversos
locais de Londres, reclamando de “truques perversos” que estavam sendo
pregados. A grande quantidade de cartas sugere que a história já havia se
espalhado por todo o subúrbio de Londres. Um dos correspondentes afirmou que
diversas jovens em Hammersmith haviam sido assustadas ao ponto de terem
ataques, e algumas teriam sido “seriamente feridas pelos que pareciam ser as
garras que o descrente usava em suas mãos”. Outro clamava que várias pessoas em
Brixton, Camberwell, Stockwell e Vauxhall teriam morrido de medo, ou tido
ataques; e outro ainda dizia que o misterioso assaltante teria sido avistado
repetidamente em Blackheath e em Lewisham.
Um relato do The Brighton Gazette foi publicado no The Times
de 14 de Abril de 1838 contava como um jardineiro em Rosehill, Sussex, fora
aterrorizado por um desconhecido vestido de urso. E embora o incidente não
lembrasse muito os outros, o The Times afirmou que “Spring Heeled Jack
aparentemente achou o caminho da costa de Sussex”. O incidente ocorrera no dia
13, e o jardineiro fora perseguido por uma criatura usando uma pele de urso, e
que saltou o muro logo depois.
O Prefeito achava que “grandes exageros” havia sido feitos,
e que era impossível “que uma assombração realizasse os feitos de um demônio
sobre a terra”, mas por outro lado, pessoas de sua confiança haviam lhe
informado de uma servente em Forest Hill que teria sido assustada ao ponto de
ter ataques, por uma figura usando uma pele de urso. Confiante de que a pessoa,
ou pessoas, envolvidas nesta “pantomima perversa” seriam capturadas e punidas,
a policia foi instruída a manter vigilância e recompensas foram oferecidas.
Grupos de busca oficiais e voluntários foram formados para
caçar o indivíduo responsável pelos ataques. E apesar das vítimas normalmente
não saírem com ferimentos mais graves que arranhões dos ataques de Jack, pelo
menos um assassinato foi atribuído a ele uma vez.
Foi durante esta época que o grande Duque de Wellington, já
com 70 anos na época, se juntou a busca, e, de acordo com os boatos, ficou
frente a frente com Spring Heeled Jack mais de uma vez. Mas os grupos nunca
conseguiram encontrar Spring Heeled Jack, e nos meses seguintes, os ataques se
intensificaram.
Os casos de Scales & Alsop
Talvez os incidentes mais conhecidos envolvendo Spring
Heeled Jack foram os ataques a duas adolescentes, Lucy Scales e Jane Alsop, em
Fevereiro de 1838, ambos com apenas alguns dias de distância entre si. Os casos
foram amplamente coberto pelos jornais da época, incluindo o The Times.
As 8:30 PM, Lucy Scales, com 18 anos de idade, e sua irmã
mais nova Margaret, retornavam para casa após visitar seu irmão, um açougueiro
que morava em uma área respeitável de Limehouse. A senhorita Scales afirmou em
seu depoimento que ela e a irmã, estavam passando por Green Dragon Alley quando
viram uma pessoa parada perto da passagem. Assim que se passou perto da pessoa,
que usava uma longa capa negra, Scales que andava a frente de sua irmã, foi
surpreendida quando o estranho cuspiu uma chama azul em seu rosto, cegando-a. O
choque foi tamanho que Scales imediatamente foi ao chão, acometida por
violentas convulsões que continuaram por horas. Após o ataque, foi dito que a
pessoa fugiu, saltando para o telhado de uma casa.
O irmão de Lucy, teria escutado os gritos de suas irmãs, que
há pouco havia deixado sua casa, e correu para ajudá-las, as encontrando em
Green Dragon Alley. Lucy foi levada para casa e lá, Margaret contou o que havia
ocorrido. Ela descreveu o atacante como alguém alto, magro, e que aparentava
ser um cavalheiro. Usava um longa capa, e carregava uma pequena lanterna como
as usadas pela policia. O indivíduo não falara nada ou tentara tocá-las, ao
invés disso, fugiu rapidamente. A polícia investigou, e interrogou várias
pessoas tentando encontrar o autor do ataque, mas tudo foi infrutífero.
A lenda crescia, e com ela a audácia de Jack.
Jane Alsop, também de 18 anos, morava em Bearhind Lane, no
distrito de Bow, e estava em casa quando lhe bateram a porta. Do lado de fora
estava um homem usando uma capa negra que afirmou ser um policial (uma capa
negra fazia parte do uniforme policial da época). O homem pedia alguma fonte de
luz, afirmando que haviam encurralado Spring Heeled Jack. Jane, que vivia com
seu pai e duas irmãs, correu para buscar uma lanterna para o homem. No momento
em que entregava uma vela acesa ao homem, o mesmo retirou sua capa, e
“apresentou a mais hedionda e assustadora aparência”, vomitando chamas brancas
e azuis de sua boca, enquanto seus olhos brilhavam vermelhos como dois
faroletes vermelhos. Alsop declarou que o homem usava uma espécie de elmo, ou
capacete em sua cabeça, e que suas roupas eram bem ajustadas, lembrando um
macacão de lona branca por baixo do casaco, onde parecia haver uma estrutura de
tiras de metal a guisa de costelas. Ela tentou correr de volta para casa, mas o
estranho a segurou pelos cabelos e rasgou seu vestido com suas garras, (que
Alsop afirmou serem “certamente de alguma substância metálica”) que ele usava
nas mãos. A jovem gritou por ajuda, e conseguiu soltar-se dele e correr em
direção a casa, onde uma de suas irmãs a puxou para dentro, não sem que antes o
estranho a tivesse alcançado nos degraus e a arranhado nos braços e pescoço. O
atacante continuou batendo na porta por algum tempo antes de fugir. Testemunhas
disseram que Spring Heeled Jack deixou seu casaco ao fugir, e uma outra pessoa
foi vista logo depois pegando o casaco e o levando dali, o que levou a policia
a acreditar que Jack teria um cúmplice.
Um certo Thomas Millbank chegou a ser preso sob suspeita,
quando, pouco tempo após o ataque a Jane Alsop, ele teria se vangloriado no bar
Morgan’a Arms de que ele era Jack, e de que tinha assustado Jane Alsop, mas
logo as afirmações foram desmentidas e Millbank foi liberado por ser incapaz de
provar como ele havia feito todos os ataques e prodígios realizados por Spring
Heeled Jack.
Saltando para a fama (e para a infâmia)
Após estes incidentes, Spring Heeled Jack se tornou uma das
personagens mais populares da época, mesmo com o medo que inspirava. Seus
feitos eram relatados nos jornais, e ele se tornou protagonista de diversos
folhetins e Penny Dreadfuls, bem como peças e espetáculos dos teatros populares
que abundavam. Em muitos teatros de fantoches, o diabo da história de Punch
& Judy foi renomeado Spring Heeled Jack.
Mas mesmo com sua fama crescendo, os avistamentos de Spring
Heeled Jack se tornaram menos frequentes, parando por um curto período antes de
voltarem em 1843 quando uma nova onda de ataques começou. Em Norrthamptonshire,
ele foi descrito como “a própria imagem do diabo, com chifres e olhos
chamejantes”, e em East Anglia os ataques aos coches mensageiros se tornaram
comuns.
No inicio de 1870, Spring Heeled Jack continuou a ser
avistado em diversos locais. Em Novembro de 1872, o jornal News of the World
reportou que Peckham estava em um “estado de comoção devido a uma misteriosa
figura de aparência alarmante” afirmando que ele não era outro que não Spring
Heeled Jack, que já havia aterrorizado a geração anterior. Histórias similares
foram publicadas no The Illustrated Police News. Em Abril e Maio de 1873 ele
voltou a aparecer diversas vezes em Sheffield.
Essas noticias continuaram frequentes, em Caistor, Newfolk,
diveras pessoas avistaram Spring Heeled Jack viajando através da cidade pulando
de telhado em telhado, e relatos similares ocorreram em Londres. Em Agosto de
1877, um dos relatos mais notáveis sobre Spring Heeled Jack veio de um grupo de
soldados em Aldershot. Um certo soldado Hohn Regan estava de sentinela quando
escutou o barulho de alguém arrastando algo metálico na estrada. O soldado foi
investigar, e não achando nada, voltou ao seu posto. Regan escutou o barulho novamente,
e foi investigar, desta vez avistou uma figura na estrada, mas que saltou e
desapareceu na escuridão, ao voltar, Regan surpreendeu-se a o ver Spring Heeled
Jack ao seu lado, cuspindo chamas azuis, Jack começou a estapear o rosto do
soldado com “mãos frias de cadáver” enquanto gargalhava. Outro guarda disparou
um tiro contra Jack, mas sem que houvesse qualquer efeito. Jack então saltou
uma incrível distância noite a dentro, rindo, enquanto os outros soldados
atiravam nele.
Em suas memórias “Forty Years On” Lord Ernest Hamilton
relata as aparições de Spring Heeled Jack. Ele conta que seu regimento havia se
mudado para Aldershot, e que aparições similares ocorreram quando estavam em
Colchester no inverno anterior. Hamilton afirma que achava que as aparições
fossem brincadeiras feitas por um de seus companheiros, um certo Tenente
Alfrey, até que presenciou Spring Heeled Jack saltando mais de nove metros e
cuspindo chamas azuis de sua boca no rosto do sentinela. O sentinela descreveu
seu atacante como um homem alto e magro usando um capacete e uma roupa de lona
branca, e que tiros pareciam não surtir efeito contra ele.
Um mês depois, em Lincolnshire, Spring Heeled Jack foi visto
saltando de casa em casa. Assim como ocorreu em Aldershot, os residentes atiraram
nele, desta vez com rifles, sem que isso tivesse efeito algum. As testemunhas
atestaram que os tiros que atingiam Spring Heeled Jack faziam um barulho como
se estivessem atingindo um objeto metálico.
Em Janeiro de 1879 Spring Heeled Jack atacou mais carruagens
que atravessavam pontes em Birmingham e Liverpool, vestido de negro e com olhos
luminosos cor de laranja, Jack saltou sobre os cavalos, soltando as parelhas
das carruagens.
Pelo fim do século XIX, os avistamentos de Spring Heeled
Jack se moviam para o oeste da Inglaterra. Em 1888, em Everton, norte de
Liverpool, ele teria aparecido pulando do telhado da igreja de São Francisco,
na rua Salisbury. Obervadores disseram que ele saltou da beirada do telhado
direto para o chão. Pensando se tratar de um suicida, os transeuntes se
apressaram para o ponto onde ele teria caído, apenas para achar um homem de pé,
os aguardando. O homem usava uma roupa branca sob um casaco negro e um
capacete. Ele caminhou em direção a multidão e saltou para o ar, ganhando os
telhados das casas em um único pulo, e indo em direção a William Henry Street,
onde continuou sendo avistado até 1904.
Um dos últimos avistamentos ocorreu em 1920, na Estação
Central de Londres, onde um homem vestido de branco foi visto saltando de telhado
em telhado até desaparecer nas ruas.
“We don’t know Jack…”
Ninguém nunca conseguiu capturar ou identificar Spring
Heeled Jack; combinando isso com suas extraordinárias habilidades, e o longo
período de tempo pelo qual agiu, vários tipos de teorias sobre sua identidade
surgiram. E enquanto muitos pesquisadores procuram uma explicação mais racional
para os eventos, outros preferem se focar nos detalhes mais fantásticos da
história e propor uma especulação mais ampla. Outros ainda ignoram todos os registros
e classificam o caso como histeria em massa derivada de mitos como o do homem
que é perseguido pelo diabo nos telhados das casas, e com contribuições de
fatores sociológicos.
Explicações paranormais também são abundantes, como a de que
ele seria um alienígena com aparência semi-humana, agilidade super-humana
(derivada da vida em um mundo de alta gravidade), e características como olhos
vermelhos retro-reflectivos e halito de fósforo; ou então de que seria um
demônio, invocado acidentalmente, ou deliberadamente por ocultistas, e que se
manifestava apenas para criar caos.
Spring Heeled Jack aparentava ser humano, e poderia ser
visto como um criminoso comum, mas devido as habilidades extraordinárias que
exibia (seus saltos, que quebrariam as pernas e quadril se um humano os
tentasse replicar), e ao fato de nunca ter sido pego pelas autoridades, ele
pode ser classificado como um dos chamados “atacantes fantasmas”, como o
“Gaseador louco de Mattoon” por exemplo.
A possibilidade de Spring Heeled Jack ter sido uma pessoa
também existe, e se encaixa nas explicações mais “racionais” embora certos
pontos sejam controversos. Essa alternativa também explicaria por que ele nunca
foi capturado, por seria ligado a nobreza.
Um dia após o ataque a Jane Alsop, outro incidente ocorreu
em Turner Street. Mais uma vez, Spring Heeled Jack bateu em uma porta, e quando
foi atendido pediu para falar com o senhor da casa, o Sr. Ashworth. O valete ia
chamar seu mestre quando o visitante saiu das sombras em que se encontrava do lado
de fora, e o garoto percebeu quem era o estranho que possuía olhos alaranjados
brilhando e garras metálicas nas mãos. Spring Heeled Jack então empurrou o
garoto e saltou sobre a casa, seguindo pelos telhados de Commercial Road. O
jovem valete pode identificar mais uma evidência, pois percebeu que sob a capa,
Spring Heeled Jack tinha algo que lembrava uma letra ‘W’ dourada sobre o peito,
como um brasão.
Isso levou a policia a suspeitar de Henry de La Poer
Beresford , o Marquês de Waterford. O Marquês era um nobre Irlandês, conhecido
pelo seu temperamento, e senso de humor peculiar e muitas vezes cruel.
Apelidado de “O Marquês maluco” , Waterford aparecia frequentemente nos jornais
por conta de suas brigas, bebedeiras, peças brutais e vandalismo, e é sabido
que estava em Londres quando os primeiros ataques ocorreram. Entretanto, os
ataques continuaram por muito tempo após a morte do Marquês em 1859.
Em 1880 o reverendo E. Cobham Brewer atestou que o Marquês
“costumava se divertir saltando em viajantes incautos, para assustá-los, e de
tempos em tempos outros seguiam seu tolo exemplo e faziam o mesmo”essa ideia
parece ser aceita entre muitas pessoas, que acreditam que Spring Heeled Jack
não seria uma criatura sobrenatural, e sim uma pessoa, ou mais pessoas, dotadas
de um senso de humor macabro. O papel do Marquês de Waterford nesta questão tem
sido aceito por vários pesquisadores, que sugerem que uma experiência
humilhante envolvendo uma mulher e um oficial de policia podem ter dado a ele a
ideia de criar o personagem como uma maneira de “acerto de contas” com a
policia e mulheres em geral. Especula-se que o Marquês teria desenvolvido uma
especie de aparato para botas com molas no calcanhar que o permitiam saltar; e
os contatos do Marquês, que era sabido ter amigos especializados em mecânica
aplicada, teriam permitido a construção de tais aparelhos, tal qual um suporte
que impedisse que fraturasse o quadril ao praticar os saltos. Também é possível
que o Marquês tenha praticado técnicas de pirofagia para incrementar as
características sobrenaturais do personagem. Mas se isso é a verdade, ou apenas
uma remota possibilidade, é impossível saber.
“They are still talking Jack…”
A lenda criada ao redor de Spring Heeled Jack influenciou
diversos aspectos da vida vitoriana, inclusive na cultura popular, pois assim
que o primeiro incidente se tornou publico, Jack se tornou um personagem
ficcional de sucesso, sendo usado como protagonista de diversos penny dreadfuls
de 1840 até 1904, em muitos dos quais era retratado com um ex membro da nobreza
que assumia a identidade de Spring Heeled Jack em ordem de reclamar sua fortuna
e resolver injustiças. Uma antecipação de diversas características que se
tornariam populares nas histórias de super-heróis.
Durante décadas e décadas, seu nome foi usado como uma
espécie de bicho-papão para as crianças londrinas, e como personagem de peças
ou filmes. E isso continua até hoje, como por exemplo nos livros“Spring Heel’d
Jack” de Max Holt, e “Spring-Heeled Jack” de Philip Pullman, “The Strange
Affair of Spring Heeled Jack”, de Mark Hodder, ou nas graphic novels
“Springheeled Jack” de David Hitchcock,
e “Captain Swing and the
Electrical Pirates of Cindery Island”, de Warren Ellis.
As aparições de Spring Heeled Jack, embora não tão
frequentes, também continuaram ao decorrer dos anos, em diversos locais. Uma
figura que foi apelidade Pérák, o Homem Mola de Praga foi visto na
Checoslováquia de 1939 até 1945, se tornando uma espécie de herói folclorico.
E em Junho de 1953, uma figura que batia com a descrição de
Jack foi vista sobre uma árvore no jardim de um prédio em Houston, Texas. Os
moradores que o avistaram descreveram-no como um homem “usando uma capa negra,
calças justas brancas e botas”. Em South Herefordshire, fronteira do Pais de
Gales, um caixeiro viajante chamado Marshall afirmou ter visto Spring Heeled
Jack em 1986. Ele usava o que o caixeiro descreveu como uma “roupa negra de
esquí” e tinha um queixo pontudo e comprido.
Desde que saltou das sombras em 1837, Spring Heeled Jack
permaneceu um mistério, sua identidade, seus propósito, nada disso foi
descoberto, e é provável que nunca seja. Mas talvez seja melhor assim. Pode ser
que se o caso tivesse sido resolvido, e a verdadeira natureza de Jack tivesse
sido revelada, não estaríamos falando dele aqui hoje.
Mas é claro, eu posso estar errado.
O que quer Jack tenha sido, uma criatura sobrenatural pronta
para pular de um beco escuro a qualquer momento, ou um louco com aparatos
tecnológicos e olhos brilhando como faroletes, a risada de Spring Heeled Jack
continua ecoando na imaginação das pessoas da mesma maneira que ecoou na mente
de suas vítimas no passado.
Fonte: http://ahduvido.com.br/
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